ARACAJU (TJ/SE) - Mudar o destino de 80 mil crianças que vivem em abrigos espalhados pelo país, sendo 300 delas em Sergipe, é o objetivo da campanha idealizada pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). A abertura da campanha em Sergipe aconteceu hoje, no final da tarde, no auditório do Tribunal de Justiça. O evento foi abrilhantado pelo coral do Instituto Canarinhos de Aracaju.
De acordo com a Promotora da Infância e Juventude, Maria Lílian Mendes Carvalho, só este ano 30 crianças que viviam em abrigos foram adotadas em Sergipe. Em 2006 foram 89, um aumento de 30% quando comparado a 2005. Ela diz que a quantidade de crianças que saem dos abrigos com uma nova família vem crescendo e um dos motivos é o fato do apadrinhamento se transformar em adoção.
A diretora do Núcleo de Apoio à Infância e Adolescência (Naia) do Ministério Público, Conceição Figueiredo, lembra que o aumento no número de adoções se deve também à divulgação do trabalho feito pelos abrigos. Mas o dado que chama atenção é que das 80 mil crianças brasileiras que vivem em abrigos somente 10% delas estão aptas para a adoção.
“A grande maioria não está em casa por questões financeiras. Apesar de viverem nos abrigos, recebem com regularidade a visita de familiares”, explica Francisco Oliveira Neto, secretário-geral adjunto da AMB e coordenador nacional da campanha “Mude um Destino”. Ele acrescenta que a expectativa da AMB com a campanha não é apenas incentivar a adoção, mas chamar a atenção da sociedade para o problema.
O presidente da Associação dos Magistrados de Sergipe (Amase), Marcelo Augusto Costa Campos, diz que muitas crianças chegam aos abrigos nos primeiros meses de vida. “O mais grave é que passam pela adolescência e depois se tornam adultos sem nunca ter a chance de viver em um lar. E essa não é uma situação particular de Sergipe”, lamenta.
Quando questionado sobre a burocracia do processo de adoção, Marcelo Augusto explica que a AMB, pensando nisso, lançou uma cartilha para explicar os caminhos que precisam ser seguidos. Todo o material está disponível no site da AMB. Para o vice-presidente da AMB, Airton Mozart Pires, o principal empecilho para a adoção é o grau de exigência dos requerentes. “Os casais querem escolher idade, cor e sexo”, informa.
Exemplo
Quem compareceu ao evento para dar um testemunho sobre adoção foi o casal Etani e José Roberto Souza. Ela é funcionária pública aposentada e ele policial civil. Juntos tiveram cinco filhos biológicos e adotaram mais 47. A primeira adoção aconteceu em junho de 1991 e a última ainda está em andamento.
“É um rapaz de 16 anos, que está com a gente há 90 dias. Estamos tentando tirá-lo da dependência química e da vida de pequenos furtos”, informa Etani, com a serenidade de uma mãe que sabe bem o que quer. “No meu coração tem lugar para mais 100”, diz convicta. O filho mais velho, entre os adotados, tem 15 anos e o mais novo apenas 1.
O casal mantém a família com os salários pequenos que recebem e com a ajuda de amigos. Etani acha que a campanha encabeçada pela AMB já poderia ter acontecido antes. “São vidas que precisam ser aproveitadas, crianças que merecem um lugar ao sol”, desabafa esperançosa.
Fonte: TJ/SE (http://www.tj.se.gov.br/tjnet/noticias/noticiacompleta.wsp?tmp.pesq=1252)
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